quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O impressionante valor que se dá ao que se ama


Ontem foi inusitado...

Um pequenino vizinho tocou desesperadamente o interfone no meu prédio, alegando que seu pássaro tinha voado de seu apartamento e que - ele tinha certeza - estava dentro do meu prédio. Relutei por não acreditar muito, até que ouvi a voz da mãe, vinda da janela vizinha, querendo saber onde ele estava. Diante da resposta dele - e também por curiosidade, resolvi descer (do alto da minha lesão) para entender o que ocorria. Quando desci, só me lembro da imagem do rosto dele colado no vidro do portão eletrônico, com as mãozinhas grudadas tapando a sombra interna, tentando enxergar um'alma viva aqui dentro, que o socorresse. Sem referência de onde procurar, abri a porta que leva ao banheiro do zelador, já na garagem. Entramos e, nem 15 segundos depois, ele dizia: "olha ele ali...!" não é que o pássaro (verde, com outras cores, lindo...) estava quietinho, no meio do compartimento que enrola a mangueira d'água?

Ele pegou o bichinho, falou com ele, o beijou, como se estivesse pedindo desculpas; e começou a me contar que tinha dormido, esqueceu-se da janela um pouco aberta e que, por "culpa dele", o bichano tinha fugido. O olhar dele me agradecendo, como quem tinha salvo sua vida, tocou meu coração. Ele não tinha mais de 8 anos de idade, estava descabelado, só de bermuda e descalço. O seu olhar era de desespero, de agonia, de perda, de culpa; e, ao mesmo tempo, demonstrava uma força absolutamente sufocante, a força de alguém que não desiste daquilo em que acredita. Nem eu, nem a mãe dele (vendo tudo da janela) acreditávamos no que acontecia. Mas, imagino, esta mesma mãe deve ter tido o mesmo orgulho que eu tive deste menino. Primeiro, por ter lutado por algo em que acreditava; segundo, por ter-me feito partilhar deste momento tão especial, que tanto me emocionou....

É de momentos assim que é feita a vida..... impagáveis; inesperados; autênticos; absolutamente maravilhosos...

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